segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O que será, que será?

   Ela chegou. Roubou os planos, os sonhos, a esperança, modificou a vida de todos que estão ao seu redor e não tem o que fazer, há não ser esperar ela ir embora. Mas aí é que está o problema: ela não vai nunca.
   E a gente fica se questionando o porquê de tudo acontecer: por que comigo? Por que com a minha família? Por que passar por tudo isso? A frustração de não ver se realizando, a dor de saber que nunca será realizado. Ela, que veio e levou consigo a alegria, deixou um vazio enorme e agora a gente não sabe o que fazer. Ver tudo prontinho esperando a chegada de alguém que nem se quer nasceu, mas ensinou tanta coisa mesmo ainda dentro do ventre de sua mãe. O amor, que brotou no nosso coração assim que soubemos da sua existência, foi o seu maior presente para nós. Foi vendo aquele ser humano tão pequeno, sereno e extremamente lindo em seu sono profundo, que toda a tristeza e revolta que a situação causou, sumiu. Como poderia está triste sabendo que aquele anjo existiu, independente do tempo que ficou entre nós, e sempre existirá no nosso coração. Cada um tem sua missão na terra e sua existência será até ser cumprida.
   Os dias vão passando, mas parece que estou anestesiada. Os compromissos cada vez maiores, a superficialidade da vida tomando conta da minha. Tanta preocupação por algo tão pequeno, tanto medo por algo tão bobo. Vejo pessoas querendo impor suas opiniões, fazendo de suas vidas uma eterna disputa e percebo o quanto perdemos nosso tempo por besteira.
   A gente perde tanto tempo com o que não devia, que quando acontece alguma coisa ruim, o arrependimento toma conta. Poderia ter dito o quanto amava, o quanto é especial, a sua gratidão, demonstrar carinho. Tanta coisa que podia ser feita e o que fizemos é perder tempo. Ninguém sabe o dia de amanhã, ninguém sabe o que vai acontecer consigo no próximo minuto. 
  Nas últimas semanas, levei dois choques de realidade da vida. Essa dor do luto, só mostra o quanto a vida é surpreendente. Ninguém espera que uma tragédia aconteça de forma tão brutal e triste. A sensação de dormência do mundo ainda está muito intensa dentro de mim. Uma coisa abala a outra e me vejo, mais uma vez, aprendendo a lidar com a minha fragilidade e fazendo de tudo para transmitir meu carinho e força para aqueles que precisam, para que assim, essa mesma força possa me contagiar.
  É difícil demais entender a morte e superar o luto. Difícil mais ainda quando se tem tanta gente fria e superficial ao redor, que só transborda ingratidão e vaidade. Preferem usar as mãos para brigar, do que para abraçar; Preferem usar a boca para falar palavras duras, do que falar coisas boas; Preferem usar a mente para desejar o mal ao próximo, do que torcer pela sua felicidade e realização. Ando tão esgotada de tanta maldade que depois dessa "surra" que levei, percebo o quanto a vida é frágil. A gente deseja tanto, planeja tanto e tudo muda, leva outro rumo.
  Cada lágrima que cai não representa só minha tristeza. Representa a fé agindo dentro de mim. Não sei da onde estou conseguindo tirar força para conseguir lidar cada dia com esses sentimentos ruins, confiando que Deus está cuidando dessa dor e entregando a Ele cada palavra dolorosa que tenho que ouvir, cada mal trato que tenho que passar, cada decepção e tristeza que venho a sentir.
Quem sabe, um dia, as pessoas aprendam a valorizar a sua vida, amando e demonstrando esse amor o máximo que puder, pois quando chega o fim, é só do amor que conseguimos lembrar.
A vida é um sopro.