terça-feira, 29 de março de 2016

O disfarce

   É isso. Eu olho pra você, sinto meu coração quase pulsar pela boca, mas tiro os meus olhos da sua direção, só para não vê o meu sorriso ir de encontro ao teu. Só para não sentir meu corpo se tremer com a sua presença. Só para não lembrar de quantas risadas nós demos, do quanto fomos felizes, apesar de tudo.
   Apesar da ausência, apesar da dúvida, apesar do medo, apesar da desconfiança, apesar do desejo. Daquilo que estava surgindo dentro de mim e de você, que só Deus sabe o que é. O mau foi cortado pela raiz, mas não quer dizer que foi esquecido. Aquilo que existiu, que cresceu em nós, foi arrancado para o nosso próprio bem... Será?
   Porém, se eu te disser que podíamos ter sido felizes? Que nosso futuro tinha tudo para ser cheio de amor? Se eu te disser que não sou igual às outras que te fizeram mal, que eu só queria te fazer feliz, ia adiantar? Se eu disser que mesmo depois de tanto tempo e de tantos obstáculos no nosso caminho, eu ainda penso em você? Ia adiantar?
   É tão fácil dizer que não gosto mais de você! Fácil rir das brincadeiras dos amigos, de fingir que não me importo se você já tem outro alguém. Consigo até fazer piadas sobre como será seu futuro sem mim, sabia? Quem vê assim, até acredita que seja verdade. Ninguém olha no fundo dos meus olhos e percebe que tem uma lágrima que sempre insiste em cair quando penso na possibilidade de você está com alguém, ninguém sente a dor que eu sinto quando tenho que ouvir sobre um passado que parece tão distante, mas você está aqui na minha frente. Ninguém consegue nem imaginar o efeito que causa em mim só de ouvir seu nome. Ninguém nem se quer suspeita que eu faço um esforço enorme para não ir atrás de você, para não gritar aos quatros cantos que eu sou tua, basta você perder esse medo. Ninguém imagina que por trás do meu sorriso e da minha pose de não-me-importo-com-você, está uma mulher que só quer sentir seu beijo novamente, sentir seu abraço, sentir que você ainda me pertence. Certo, vamos ser sinceros aqui: você nunca me pertenceu, mas o bem que trouxe para minha vida e a sensação de plenitude não tem como explicar.
    Nós não nos despedimos. Simplesmente, acabou. Como o sol que se põe, como a chuva que cai, como a porta que fecha. Quando vi, já não te via mais. Quando reparei, já havia quilômetros nos separando. E agora, eu tenho que conviver com as palavras que não foram ditas, os beijos que não foram dados, o amor que não foi correspondido. Seu medo nos afastou.
  Ah, mas quem se importa? Continuo aqui seguindo a vida, sorrindo, fingindo que sou indiferente a ti. Você, que é tão seguro e maduro para tantas coisas, é um menino medroso quando se trata de amor. Mas eu entendo: sentir que é amado de verdade assusta mesmo.
   As pessoas perguntam o que vi em você que não vejo em mais ninguém, e eu respondo: vi a minha esperança no amor sendo renovada, vi que eu podia sentir meu coração pulsar de novo, vi que eu podia ser muito mais eu só para te fazer feliz. É difícil te encontrar e agir como se fosse qualquer outra pessoa, mesmo sabendo que você é muito melhor que a maioria delas. É difícil te tratar como "mais um", se para mim você foi o único. É cruel demais matar diariamente o que eu sinto por ti. É uma tortura te olhar nos olhos e te abraçar (mesmo que por alguns segundos) e depois agir como se nada tivesse acontecido. Aconteceu: você me cativou! E mesmo sem ter nenhuma culpa, te trato como vilão da minha historinha só para tentar te esquecer mais rápido, mesmo sabendo que as todas tentativas são em vão.

PS: Se um dia conseguir olhar no fundo dos meus olhos vai perceber que, apesar de tudo, meu coração ainda é seu.

domingo, 13 de março de 2016

Conselho de amiga

   Uma vida de abandonos nos impede de tentar algo novo. Seja por medo de perder novamente aquilo que nos parecia seguro ou seja porque não está acostumada com a tal felicidade que todo mundo vive estampando por ai. Não me entenda mal, eu sou feliz. Tenho casa, tenho comida, tenho saúde e alguns amigos que conseguem me aguentar. Mas falta mais. Falta algo que vejo pulsar na vida dos outros. Falta um sorriso sincero, falta confiança, falta amor, falta simplicidade. Falta ser mais leve, falta ter coragem de buscar uma coisa que sirva verdadeiramente para mim e não tirar o que pertencia à outra pessoa. As inúmeras tentativas de roubar a felicidade alheia, quase todas funcionaram. Eu consegui o que queria. Mas cadê a tal felicidade que as pessoas sentem? Poxa, você estava fazendo ela feliz, então me faça feliz também, vai! Agora! O que? Como assim já acabou? Nem começamos! Vem, vamos tentar de novo! Vou fazer tudo que ela fazia por você para que você goste de mim como gostava dela. Não, espera ai. Eu tenho que fingir ser outra pessoa para ser amada de verdade até quando?
   Se você se identificou com isso que acabei de escrever, tenho a resposta para ti: a tal felicidade que você tanto busca só vai chegar quando a leveza da alma for igual a leveza do coração. Inveja, ciúme, maldade, isso é muito pouco para uma pessoa tão grande. Não deixe que o medo de ficar sozinha seja maior do que a sua capacidade de ser feliz, sem depender de ninguém. É muito fácil amar outra pessoa. Difícil é nos amar, nos perdoar e, principalmente, nos aceitar do jeito que somos, porque não tem nada mais prazeroso do que o amor próprio. Se você continuar olhando o outro viver, quem está deixando de viver é você.